Quinta-feira, 24 de Março de 2011

Sobre o The Wall

Para os mais distraídos, Roger Waters veio a Portugal no início desta semana, com o seu "The Wall Live Tour", num concerto duplo que esgotou, com meses de avanço, o Pavilhão Atlântico. Sendo um ávido fã de Pink Floyd, nunca me perdoaria se enjeitasse a oportunidade de ver o ex-frontman da banda que marcou uma geração - e me marcou a mim, também.

 

Vou ser honesto. O meu amor por Pink Floyd não começou muito cedo - como poucas das coisas que me marcam hoje em dia. Havia umas músicas que me agradavam, mas era o só. Até que, em 2006, tomei contacto com um duplo CD chamado "The Wall"... e caiu-me o queixo, ao deparar-me, não com um conjunto de músicas que partilhavam o mesmo suporte físico sem terem nada em comum, mas sim com um monumento, em que se conta um conto, em que todas as músicas possuem um significado e adicionam mais uma peça no puzzle que é a história de Pink, a personagem central do álbum - e a história do próprio Roger Waters. Órfão de pai devido à II Guerra Mundial, criado por uma mãe algo protectora que procurou compensar a morte do pai, e tendo de lidar com a infidelidade da namorada, Waters teve, num incidente com um fã durante um concerto, a "faísca" que faltava para produzir uma das grandes obras musicais de sempre. Infelizmente, este álbum também provocaria a cisão interna dos membros do grupo, com Richard Wright a ser despedido e a ser um mero "músico contratado" durante a digressão que se seguiu ao lançamento. O álbum seguinte, "The Final Cut", já seria quase um "álbum a solo" de Waters.

 

De qualquer forma, foi este álbum que me fez tomar conhecimento, mais a fundo, do trabalho dos Pink Floyd. Acabei por coleccionar os álbuns todos, ouvir todas as músicas, investir em livros sobre a banda... e, mal soaram os primeiros zunzuns sobre a vinda de Roger Waters a Portugal, ainda por cima inserido na "The Wall Live", tive logo de reservar a minha presença nesse espectáculo. Os bilhetes para o primeiro concerto, se a memória não me falha, foram colocados à venda dia 1 de Junho - e não devem ter demorado mais de duas semanas a esgotarem. Só depois é que foi avançada a segunda data - e, se eu soubesse o que sei hoje, tinha comprado para esse dia também...

 

Tentar descrever o concerto é algo tão fútil como tentar descrever um pôr-do-sol. As palavras não conseguem fazer justiça à espectacularidade, aos efeitos visuais, às músicas. Viu-se um Roger Waters, do cimo dos seus 67 anos, ainda com muito do vigor que o caracterizou durante a juventude, a cantar para o público, a discursar na sua pele de ditador totalitarista. Viram-se os estandartes do partido ficcional "Hammer", empunhados pelos seus "seguidores". Viu-se um Stuka a voar sobre a audiência e a irromper em chamas sobre o palco. Viu-se a construção do muro, durante toda a primeira parte do concerto, e à sua destruição após a sentença final de "The Trial". Viu-se (ou melhor, ouviu-se) a monumental vaia quando Waters perguntou se deveria confiar no governo. Viram-se as animações de Gerald Scarfe, inconfundíveis e intemporais, reflectidas no muro. Viram-se diversas imagens de soldados e civis mortos pela guerra, reflectidos no muro durante o intervalo. Viram-se as famosas marionetas do Professor (em "The Happiest Days of Our Life" e "Another Brick In The Wall, part 2") e da Esposa (em "Don't Leave Me Now"), e o não menos reconhecido porco insuflável carregado de mensagens e símbolos políticos.Em suma, viu-se, não um concerto, mas uma epopeia. Uma ópera. E quando as luzes se acendem e os intervenientes aparecem (entre os quais se inclui o próprio filho de Waters), para agradecer ao caloroso público que não regateou palmas, damos por nós com pena de já se terem passado as cerca de 2h30 que dura o espectáculo.

 

Em suma, podia-se ter argumentado que o preço dos bilhetes era algo puxado (o mais barato era de 40€) - mas, para um espectáculo deste calibre, é dinheiro que é bem empregue. Não tenho grande experiência em concertos, tenho de o confessar, mas, sem qualquer sombra de dúvida, este concerto foi um dos pontos altos da minha vida. Ter o privilégio de poder assistir a "The Wall", 32 anos depois do álbum ter sido colocado à venda, para mim foi um privilégio e um orgulho. E digo mesmo mais: caso pudesse, iria a todos os concertos da digressão. Sem hesitar.


Engendrado por Nettwerk van Helsing às 19:01
Ligações a esta porcaria | Atirar pedrada | Emoldurar disfunção

Descrição do paciente

Procurar disfunção

 

Julho 2011

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

11
13
15

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


Loucuras recentes

Sobre a mudança

Sobre as pedaladas

Sobre os novos acessos

Sobre o alcatrão portajad...

Sobre os carris

Sobre o Verão

Sobre a passagem do tempo

Sobre a viragem

Sobre a paixão

Sobre as moscas

Sobre as laranjas maduras

Sobre o The Wall

Sobre os entusiastas

Sobre o material circulan...

Teste

Sobre as novas pragas da ...

Fifada do dia (XXII)

Sobre a esperança

Sobre a excomungação de v...

Sobre a crise

Loucuras antigas

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Março 2011

Janeiro 2011

Outubro 2010

Novembro 2009

Outubro 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Ligações ao mundo exterior

subscrever feeds